sábado, 6 de junho de 2009
Escaravelhos Humanos
Dezembro de 1998, cumpria um período científico na UnB em Brasília. Transicionava o governo FHC do primeiro para o segundo mandato. Eu me preocupava com as tentativas em curso para modificar o código florestal quando tive um sonho, daqueles que dá roteiro para filme de terror. No sonho vi-me no que parecia ser um centro cirúrgico de um hospital. A poucos metros encontrava-se um corpo deitado sobre uma mesa operatória, cercado por profissionais médicos, não conseguia reconhecer a sua identidade. Na verdade não conseguia nem bem ver os contornos do corpo, parecia coberto por um manto marrom escuro de algo que se mexia. Me aproximei, e que enorme susto, o substrato marrom era na realidade uma capa de milhares de escaravelhos grandes e feios movendo-se avidamente sobre o corpo, metendo suas trombas perfurando a pele, sugando o sangue. Me aproximei ainda mais, estranhando protuberâncias grandes nas cabeças dos insetos.... mas, o que era aquilo?...Incrível, ...não eram cabeças de escaravelho,...eram cabeças humanas... ou seriam apenas faces?... mais pareciam com máscaras em bailes de fantasia... Mas o quê? ...Eram faces conhecidas... sim, lembravam políticos no poder, fazendeiros da Amazônia, madeireiros, mineradores, empresários. Um dos médicos na sala se aproximou e me explicou que o corpo era o Brasil, e que os escaravelhos eram uma matilha pestilenta a refestelar-se sugando a vitalidade do corpo enfermo. Perguntei assombrado porque eles não removiam os escaravelhos, ao que eles responderam que não podiam, já que os seres disformes tinham o pulso vital do País em seu controle. Uma remoção radical resultaria na morte do corpo, assim que somente podiam tirar um a um. O sonho acabou e acordei aturdido. A imagem tétrica de escaravelhos humanos com caras amarronzadas de políticos e ruralistas me deixou consternado pelo azar do maravilhoso País Verde, em seu leito de morte. Desde este sonho já se vão mais de 10 anos, nos quais a realidade tenebrosa daquele sonho se mostra a cada dia com maior excrecência e vigor pestilento. Agora, a sociedade Brasileira, refém dos escaravelhos sugadores, se vê diante de um assalto de grandes proporções na própria legislação ambiental do País. Que será do corpo enfermo, quanto tempo ainda resistirá?
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Prezado Antonio Donato Nobre,
ResponderExcluirOntem tive o privilégio de assistir a sua apresentação no TED, e muito me emocionou seu elevado grau de respeito e admiração pelas palavras de Davi Kopenawa.
Somos herdeiros da cultura ocidental, e como tal, vivemos cotidianamente dependentes do nosso universo sensível, construindo nosso palácio de ilusões totalmente voltados para o exterior, separados, compartimentados e limitados.
Como grupo humano, ainda não vivemos a consciência da interdependência de tudo e todos, vivemos a ilusão da independência ou mesmo da dependência.
Tolstoi dizia que onde terminam as palavras começa a musica.
Talvez possamos ir além, e dizer que onde a razão e o sentimento não alcançam, onde a filosofia e a arte encontram seu limite, a intuição pode atravessar a fronteira e adentrar-se no mistério.
Após o renascimento, a evolução do pensamento científico esclareceu alguns aspectos da necessária religação que o homem até então atribuía a religiosidade e seus dogmas, totalmente alheio a sua profunda interação com a nossa ordem de natureza e a relação desta com a supra natureza, mas em consequência padecemos em "o que os olhos não veem, o coração não sente", como vc observou na palestra.
Nas manifestações artísticas mais autenticas, em sua expressão mais elevada, podemos perceber que os artistas, independentes de sua orientação, tornam-se intermediários do mundo das causas e dos efeitos, sem que necessariamente tenham consciência disso.
Uma peculiar condição vital lhes permite vencer toda resistência e servir de canal para a energias que permeiam as estruturas mais sutis da natureza que correspondem ao conceito Hermético da unica força que quando utilizada na Terra, permanece inalterável, ou seja a quintessência e suas múltiplas dimensões, sustentando a vida como um todo.
Possivelmente, virar o Habble de ponta cabeça para olhar o cosmos que se esconde na biodiversidade do nosso planta, sem duvida seria mais produtivo, mas talvez, sem o Habble possamos encontrar e vivenciar autênticos conceitos de verdade, bondade e beleza, convivendo, respeitando e escutando culturas mais primitivas, culturas, para as quais a Amazônia não representa um inferno verde, mas a própria expressão da verdade, da bondade, da beleza e da VIDA em toda sua plenitude.
Os escaravelhos humanos do seu sonho, condenam ou atrazam a onda de vida humana a perder o que ela tem de mais precioso em seu movimento para cumprir a finalidade da existência.
A alavanca tecnológica, nas mãos de um ser que mantem sua consciência de vida separada do universo é como uma esquizofrenia, onde nos manifestamos entre a razão e a ILUSÃO.
Os alquimistas diziam que Deus sonha na pedra, move-se no animal e desperta no homem.
Sua colaboração para esse despertar tão necessário a humanidade, me parece extremamente consistente e de suma importância.
Como arquiteto, não tenho uma formação capaz de avaliar cientificamente suas propostas, mas posso lhe afirmar que seu trabalho me emocionou, e confio mais nas células neurais do meu coração, onde o conceito de espaço e tempo não esta limitado a dimensão geométrica da minha consciência.
Gostaria de terminar meu comentário oferecendo a vc a ultima estrofe que o nosso poeta Gilberto Gil escreveu na musica " Se eu quiser falar com deus".
"Se eu quiser falar co Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas para segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao final vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar"
Um grande abraço,
Roberto São Thiago
05/07/2015
Puxa Roberto, somente agora vi seu comentario feito em julho de 2015. É a primeira pessoa que comenta nos meus blogs, assim que estava desacostumado a olhar. 3 anos depois respondo que seu comentario é mais do que belo, é profundo. Muito grato de coraçao, me ofereceu ums bons momentos de viagem emocional pelo cosmos de uma filosofia bela nas tuas palavras e na poesia do Gilberto Gil. Abraço forte
ExcluirPrezado Antonio Donato Nobre,
ResponderExcluirOntem tive o privilégio de assistir a sua apresentação no TED, e muito me emocionou seu elevado grau de respeito e admiração pelas palavras de Davi Kopenawa.
Somos herdeiros da cultura ocidental, e como tal, vivemos cotidianamente dependentes do nosso universo sensível, construindo nosso palácio de ilusões totalmente voltados para o exterior, separados, compartimentados e limitados.
Como grupo humano, ainda não vivemos a consciência da interdependência de tudo e todos, vivemos a ilusão da independência ou mesmo da dependência.
Tolstoi dizia que onde terminam as palavras começa a musica.
Talvez possamos ir além, e dizer que onde a razão e o sentimento não alcançam, onde a filosofia e a arte encontram seu limite, a intuição pode atravessar a fronteira e adentrar-se no mistério.
Após o renascimento, a evolução do pensamento científico esclareceu alguns aspectos da necessária religação que o homem até então atribuía a religiosidade e seus dogmas, totalmente alheio a sua profunda interação com a nossa ordem de natureza e a relação desta com a supra natureza, mas em consequência padecemos em "o que os olhos não veem, o coração não sente", como vc observou na palestra.
Nas manifestações artísticas mais autenticas, em sua expressão mais elevada, podemos perceber que os artistas, independentes de sua orientação, tornam-se intermediários do mundo das causas e dos efeitos, sem que necessariamente tenham consciência disso.
Uma peculiar condição vital lhes permite vencer toda resistência e servir de canal para a energias que permeiam as estruturas mais sutis da natureza que correspondem ao conceito Hermético da unica força que quando utilizada na Terra, permanece inalterável, ou seja a quintessência e suas múltiplas dimensões, sustentando a vida como um todo.
Possivelmente, virar o Habble de ponta cabeça para olhar o cosmos que se esconde na biodiversidade do nosso planta, sem duvida seria mais produtivo, mas talvez, sem o Habble possamos encontrar e vivenciar autênticos conceitos de verdade, bondade e beleza, convivendo, respeitando e escutando culturas mais primitivas, culturas, para as quais a Amazônia não representa um inferno verde, mas a própria expressão da verdade, da bondade, da beleza e da VIDA em toda sua plenitude.
Os escaravelhos humanos do seu sonho, condenam ou atrazam a onda de vida humana a perder o que ela tem de mais precioso em seu movimento para cumprir a finalidade da existência.
A alavanca tecnológica, nas mãos de um ser que mantem sua consciência de vida separada do universo é como uma esquizofrenia, onde nos manifestamos entre a razão e a ILUSÃO.
Os alquimistas diziam que Deus sonha na pedra, move-se no animal e desperta no homem.
Sua colaboração para esse despertar tão necessário a humanidade, me parece extremamente consistente e de suma importância.
Como arquiteto, não tenho uma formação capaz de avaliar cientificamente suas propostas, mas posso lhe afirmar que seu trabalho me emocionou, e confio mais nas células neurais do meu coração, onde o conceito de espaço e tempo não esta limitado a dimensão geométrica da minha consciência.
Gostaria de terminar meu comentário oferecendo a vc a ultima estrofe que o nosso poeta Gilberto Gil escreveu na musica " Se eu quiser falar com deus".
"Se eu quiser falar co Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas para segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao final vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar"
Um grande abraço,
Roberto São Thiago
05/07/2015